Segundo o arquitecto suíço italiano Mario Botta o viver longe dos grandes centros é condição necessária à percepção do universal.Com o nariz encostado à parede de um qualquer grande arranha-céus é difícil perceber o tamanho dele e, muito menos, ter uma ideia do impacto na paisagem.Vivemos em arquipélago há séculos!Talvez por isso a gente aqui, habitando estas ilhas do Norte da Macaronésia, perceba melhor os dramas de se ser português nos inícios do Século 21!Quando neste fim de semana a Marinha Portuguesa termina em Ponta Delgada as festividades do Dia da Marinha 2007, que este ano realizou nos Açores, faz mais do que trazer até cá alguma música muito boa, exposições interessantíssimas, a “Sagres” e uma "João Roby" já com a sua idade.Pelos modos que pode e sabe, a Armada está também a sinalizar, mais uma vez, aquilo que teimamos em não ver, uns mais do que outros: As dimensões do País que somos, mesmo tendo em conta – ou por isso mesmo – o mapa em que ele se inscreve e o lugar que ele ocupa no contexto Atlântico, Europeu e do Mundo.Portugal nasceu na Europa e na Península Ibérica. Poderia ter sido, mesmo com um império colonial ultramarino na Idade Moderna, mais um país europeu e continental à beira mar plantado!A questão, porém, é que, ainda mal terminara o arrumar de casa que foi o chegar aos Algarves, o mar começou a participar da construção identitária de um modo que não é o mesmo doutros povos.A Serra da Estrela, o Marão e Trás os Montes, o interior alentejano existem e fazem parte de nós, mas Camões, ao colocar o velho do Restelo nos Lusíadas, faz mais do que tratar o tema dos que ficam, ele coloca ali os que são demasiado europeus para serem atlânticos. Coloca a falar, sobretudo, os que são demasiado continentais, terrestres, amantes da largueza de terras contínuas e críticos dos que vêem na comunicação marítima ou outra o progresso dos povos, o fluir das culturas, o alicerce das novas identidades feitas de conhecimento e comparação e já não de medo.Portugal tornou-se, por via do que lhe fizeram as mãos e braços de muitos dos seus filhos, um país de mar, e ficou assim até hoje.Pelo menos deveria ter ficado, com a terra a servir de ancoragem, a comunicação a servir de seiva, o oceano a servir de lugar donde se olham as coisas.Enquanto os portugueses foram capazes de gerir as relações que o mar lhes abria e possibilitava, as questões de tamanho perante o resto, de função perante os outros, de posição perante a concorrência, foram sendo resolvidas. Ah! A maravilha da resposta de D. João VI, quando muda a capital para o Brasil e coloca todo o Atlântico entre si e Napoleão, continuando do Rio de Janeiro a governar a Índia, o oiro do Brasil, as riquezas de África…Quando Russell-Wood num livrinho fabuloso, publicado por ocasião da Expo 98, se refere a Portugal como tendo um destino entrelaçado com o mar, faz mais que um cumprimento de circunstância e um título de ocasião. Refere um facto! Um importante facto!Só que a gente – sobretudo a gente que mora no rectângulo continental europeu português – parece teimar em esquecer que a nossa capacidade de ser país neste início de século e milénio, depende, exactamente, de perceber até que ponto o mar e a condição de país-arquipélago são estruturantes desse direito à diferença.Na actual fase de integração europeia importa, e depressa, perceber que o nosso país tem de se construir, cada vez mais, integrando o mar e a partir do mar.Não basta ter uma das maiores, se não a maior, zona económica da União, em termos proporcionais!Porque ela é maior em área que a própria área terrestre total do País, tem de ser o nosso activo cultural, económico e político mais relevante!
Diário Insular 20 de Maio de 2007 - VELA DE ESTAI -por: Francisco Maduro Dias
Diário Insular 20 de Maio de 2007 - VELA DE ESTAI -por: Francisco Maduro Dias
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