sábado, 15 de dezembro de 2007

Património de Angra encarado com "indirerença"

Património de Angra encarado com "indiferença"
"A União, Sexta-Feira, dia 14 de Dezembro de 2007, em Actualidade

CONCLUSÕES DE DEBATE


João Rocha
jrocha@auniao.com

“A indiferença continua a ser um modo muito comum de ver as questões relativas ao Património Mundial de Angra”. Esta é uma das conclusões saídas da mesa redonda/debate sobre “Angra Património Mundial, Problemas e Soluções” na passagem do 24º aniversário da inclusão da Zona Central de Angra do Heroísmo na Lista do Património Mundial da UNESCO, com organização do Instituto Histórico da Ilha Terceira.
De acordo com as conclusões do debate, promovido por solicitação da Associação Regional de Turismo, trata-se de uma “Indiferença que é transversal aos responsáveis e à sociedade. Essa indiferença constitui um obstáculo efectivo à valorização do recurso que é esse Património;
Acresce que a documentação constante do sítio Internet da UNESCO relativo a Angra é “muito pobre, quer ao nível da informação cultural quer ao nível dos documentos de acompanhamento”.
Do ponto de vista da intervenção no construído “continua a haver dificuldades em compatiblizar a valorização do património construído com a “obra nova””.
“A edificação de uma peça de arquitectura contemporânea seria um elemento de valorização de Angra” – sublinham.
Por outro lado, “investidores sentem que, apesar de o “Gabinete da Cidade” já não existir de modo formal, ele existe na prática, continuando a sentir-se bloqueios e a confundir-se coisas cada vez que se pretende realizar alguma obra”.
“Os meios de apoio e auxílio, não apenas financeiros mas técnicos, devem ser melhorados, no sentido de parcerias activas de intervenção na valorização da Zona Classificada” – advogam.

Turismo
condicionado

Por outro lado, as conclusões do debatem anotam que “o turismo, que é até agora um dos poucos modos, já em aplicação, de aproveitamento económico do facto da Zona Central de Angra ser classificada, está maioritariamente condicionado pelo facto das empresas promotoras serem exteriores à ilha e, até, aos Açores”.
“As visitas à Zona Classificada subiram de cerca de 10 em 1995 para 200, até agora, em 2007. Porém, a localização dos hotéis e a falta de hábito de andar a pé dos turistas portugueses leva a que se instalem verdadeiras revoltas quando eles são trazidos, a pé, até ao Alto das Covas para, daí começarem a visita, a pé, ao Centro Histórico. Ao contrário, os grupos internacionais incorporam com naturalidade a visita a pé. As empresas promotoras evitam, como é lógico nelas, qualquer gasto em transportes que é considerado supérfluo” – observam.
A qualidade de Património Cultural da Zona Classificada e a própria ilha Terceira “têm sido grandemente prejudicadas pela mensagem, agressiva e globalizante, que promove actualmente uns Açores virados para os valores da natureza e da paisagem natural”.
“Se alguns edifícios públicos passaram a estar abertos, sobretudo ao fim de semana, a Catedral passou, por exemplo, a fechar a partir da 12h30 ao fim de semana e feriados. É complicado porque nem todos se levantam cedo para visitar a cidade” – argumentam.
Acrescentam que o acesso “a locais relevantes como o Museu de Angra, situado quase no outro extremo por oposição aos grandes hotéis e ao cimo de uma ladeira, resulta em que muitos acabam por não fazer essa visita “recusando-se””.
Mesmo assim, “pode-se assumir que a visita à cidade de Angra potenciou, na maioria dos casos, o aumento de um dia na permanência média de turistas na Terceira”.
“Seria importante definir os tipos de turistas alvo e os mercados alvo, tendo em conta o Objectivo: Bem Classificado Angra como Património Cultural UNESCO” – alegam.
Realizado a 7 de Dezembro, o debate contou com uma mesa constituída por representantes do Instituto Histórico, agentes económicos, moradores e intervenientes culturais que apresentaram, cada um, o seu ponto de vista, numa primeira parte, estabelecendo-se na segunda parte algum debate.
A sessão decorreu no auditório do Palácio dos Capitães Generais, que se encontrava esgotado.


Transportes
em “cartel”



De acordo com o debate levado a cabo pelo o IAC, ”o acesso à Terceira e a Angra continua, de modo evidente a todos, condicionado pelos transportes aéreos e marítimos, caros, em cartel, ou inexistentes”.
“Há falta de pelo menos uma ligação permanente entre Angra e o Porto, entre Angra e a Costa Leste dos EUA, que se mantenham todo o ano de modo a criar condições para a sua promoção” – referem as conclusões.
A discrepância, adiantam, entre os horários de transporte interno da SATA e tarifas de bagagem leva a que “muitos tenham de pagar quase tanto entre S Miguel e a Terceira como pagaram para chegar aos Açores, pois são obrigados a permanecer uma noite em cada viagem naquela ilha, além de que o modo como a bagagem é tratada obriga, por vezes, a grandes volumes de tarifas de excesso a pagar”.

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